sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Deolinda... "Parva que sou".

É sem dúvida a música do momento e por muitos já considerada o hino da juventude portuguesa.
Mas porquê? Provavelmente, o sucesso não se deve só à qualidade da "letra" ou da música, mas sim ao atual momento económico e social que o país atravessa.
Os Deolinda tiveram a feliz ideia de trazer de volta as músicas de intervenção, um pouco esquecidas desde os tempos do Zeca e do Fausto entre outros, como um sinal de que algo não está bem na sociedade portuguesa. As músicas de intervenção nasceram em Portugal nos tempos da ditadura e regressaram agora nos tempos da democracia, mas democracia essa que, ou é muito pobre, ou é uma democracia deturpada/encapotada por quem a pratica.
O Estado deixou de se preocupar com a "parte social" em detrimento da parte económica. E o governo, completamente desnorteado, passou a dar importância total ao "cidadão contribuinte", ignorando por completo o cidadão enquanto ser humano.
Neste contexto, quem acaba por sair mais prejudicada é a juventude, desprovida de valores, entregue a si própria, ignorada pelas instâncias políticas e presa "à casa dos pais". Foi aqui que os Deolinda foram buscar a inspiração e conseguiram uma "letra" que retrata o estado de espirito da juventude dos dias de hoje em Portugal. Pode dizer-se que foi a música certa na altura certa e os jovens reveem naquela letra aquilo que sentem na realidade, ou seja, o abandono por parte de um país que é seu, mas que não os protege nem se preocupa minimamente com eles.

"Parva que sou"  in Deolinda  (Vale a pena analisar a letra da música)

Sou da geração sem remuneração

E não me incomoda esta condição
Que parva que eu sou
Porque isto está mal e vai continuar
Já é uma sorte eu poder estagiar
Que parva que eu sou
E fico a pensar
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar

Sou da geração “casinha dos pais”
Se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
E ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou
E fico a pensar
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar

Sou da geração “vou queixar-me pra quê?”
Há alguém bem pior do que eu na TV
Que parva que eu sou
Sou da geração “eu já não posso mais!”
Que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou
E fico a pensar,
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar

Um recado ao País, um alerta à sociedade, um hino à juventude e uma reflexão às políticas sociais praticadas em Portugal e aos políticos que as praticam.
Parabéns aos Deolinda....
Eduardo Dias

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